A Dádiva da Amizade

 
A amizade é uma das maiores dádivas que um ser humano pode receber. Ela está para além dos alvos comuns, dos interesses compartilhados ou das mesmas historias. É mais forte que a atração física, mais profunda que a solidariedade ou um projeto de vida. A amizade é a alegria de dar e receber sem reservas. É estar com o outro mesmo quando não se pode nem aumentar a alegria, nem diminuir a tristeza. Amizade é o encontro de almas que promovem a nobreza de um amor.
O culto ao individualismo, a busca de realização pessoal, o narcisismo, a satisfação imposta pelo consumismo, tudo isso tem criado em nós uma sensação falsa de preenchimento e uma percepção cínica da amizade. Nossa incapacidade de compreender o significado e a profundidade da amizade compromete, não só nossa humanidade, mas, sobretudo nossa relação com Deus. De um lado nossa vida pode ser resumida na busca por um amigo, na renúncia da solidão; mas por outro, rejeitamos a idéia de qualquer relacionamento que comprometa nossa liberdade.
Foi a amizade de Davi e Jônatas que livrou Davi da loucura, de ser um homem amargurado, doente e vingativo. O alicerce da amizade de Davi e Jônatas foi Deus, o Deus da aliança. Ao se despedirem depois de chorarem e beijarem um ao outro, disse Jônatas: “Vai-te em paz, porquanto juramos ambos em nome do Senhor, dizendo: O Senhor será entre mim e ti e entre a minha descendência e a tua”. Há nesta declaração duas caracteriticas importantes. A primeira é Deus. Toda amizade começa em Deus, ou melhor, toda experiência real e verdadeira de amor começa e é preservada em Deus, que é a fonte de todo amor. Somente quando nos sentimos desejados, amados e queridos é que podemos aprender a amar, desejar e querer. O único amor que torna possível o nosso amor é o amor de Deus. “Seja Deus para sempre entre nós”. A outra característica da declaração de Jônatas foi a sua despedida. Ele inicia dizendo: “Vai-te em paz!” – é uma amizade não possessiva, libertadora, não sufocante. Ela deixa o outro seguir, invoca a paz, abençoa. Toda relação possessiva não passa de uma relação com o próprio ego medroso e inseguro. Ela não alimenta o amor, não promove o outro, não contribui para o crescimento.
Toda dádiva de Deus tem um valor em si mesma. Estamos acostumados a encontrar o valor das coisas em algum lugar fora delas. Os dons de Deus não devem ser avaliados assim. Sua beleza reside neles e não apenas no que produzem. A amizade tem sua beleza nela mesma, um amigo é aquela pessoa que vive da sua inutilidade. Como disse Rubem Alves: “Pode até ser útil eventualmente, mas não é isso que o torna um amigo. Sua inútil e fiel presença torna nossa solidão uma experiência de comunhão. Diante do amigo sabemos que não estamos sós. E alegria maior não pode existir”.
Fomos chamados para amizade. A comunhão faz parte da vocação primeira do cristão. Jesus, no sermão de despedida, disse que não chamaria mais seus discípulos de servos, mas de amigos. A razão é muito simples: não haveria mais segredos entre eles; tudo quanto Ele e o Pai compartilham, agora seus amigos também compartilham. Não há convite mais pessoal, amoroso e eterno do que esse, assim como não há nada de mais transformador, mais verdadeiramente humano e mais revolucionário. Eu me pergunto se nossa resistência à oração não é porque resistimos à amizade. Mas isso fica para outra conversa...

Texto adaptado: Ricardo Barbosa – do Livro “Janelas para a vida” Posted by Picasa

Comentários

Anônimo disse…
Adorei o texto, vejo grande importancia na amizade,em nossas sociedade muitas vezes o amor homemX mulher e bem mais valorizado que o amor entre amigos acho que cada um tem o seu valor, mas a amizade realmente tem livrado muitas pessoas da loucura, eu sou uma dessas, tenho amigos maravilhosos e agradeço muito a Deus pela vida deles.
E isso ai Coracy, continuemos a valorizar e correr atras do que realmente e bom.
Anônimo disse…
Um amigo diz o seguinte: " Para saber a quantidade de "amigos" que se tem de uma festa para saber a qualidade deles fique doente..."

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