Estágios no caminho da vida

Por James M. Houston

Na infância e na juventude, somos mais movidos pelas sensações, pelo imediatismo; “queremos desfrutar da vida do jeito que ela vier”, dissemos nós. Neste estágio da vida, nosso ambiente externo se mostra irresistível e estamos constantemente nos ajustando às suas vicissitudes. Entretanto, à medida que nossos horizontes sociais vão sendo ampliados, no início da vida adulta, podemos nos tornar mais conscientes das outras pessoas em nossa vida e podemos nos sentir desafiados a viver de forma mais moralmente responsável perante nós mesmos e perante os outros, a ponto de abraçarmos uma grande causa ou um ideal. Mais tarde, chega o momento de rever toda a narrativa de nossa vida, em que procuramos “entender o sentido de tudo”. Buscamos a saúde terapêutica e a orientação de outras pessoas que são importantes em nossa vida.
Podemos, contudo, ficar emperrados em um desses estágios. Foi isso, claro, que aconteceu com Odisseu (Ulisses) e outros personagens literários, como Don Juan e James Bond. A busca, pelos estóicos, de uma vida virtuosa pode ser interrompida, a ponto de estagnar-se na etapa moralista. O caminho terapêutico que nossa cultura tem procurado, num anseio por liberdade e realização, também pode deixar-nos mais dependentes de nosso terapeuta e de normas culturais que somos levados a aceitar passivamente.
A auto-reflexão é um dos elementos que nos permite vencer cada uma dessas etapas. Sem ela, nós nos condenamos a “vidas estagnadas”. É normal que, no primeiro estágio, a pessoa reflita pouco ou nada sobre sua vida. Se assim não fosse, ninguém se deixaria mais levar pelo imediatismo do momento, entregando-se à sensualidade e até mesmo à escravidão dos vícios.
Entretanto, quando a pessoa escolhe como deve viver, entre a realidade e os ideais, sua vida ganha mais sentido. Também ganha em estabilidade, quando há a pratica de disciplinas...

...Mas quanto mais honestos formos com nós mesmos, mais desejaremos a inteireza de nosso ser, mais buscaremos sair de um mundo abstrato e entre num mundo muito mais complexo das outras pessoas e da intimidade com o nosso próprio auto-entendimento. Talvez a consciência de Deus também nos leve a conviver com muito mais mistério, aceitando coisas para as quais não há uma explicação racional.

James M. Houston, Mentoria espiritual: o desafio de transformar indivíduos em pessoas, 2003,p.100.


Ah, nós que ainda nos chamamos de cristãos, somos todos, do ponto de vista cristão, tão mimados, tão distantes daquilo que o Cristianismo realmente requer dos que querem se chamar de cristãos – mortos para o mundo – que raramente alcançamos esse grau de ardor.

- Sören Kierkegaard

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