Pense no amor com verdade

O amor não só prefere o bem do amado ao do que ama, mas nem mesmo chega a comparar os dois. Ele só conhece um bem, o do amado, que é, ao mesmo tempo, o seu próprio. Não é dividindo com o próximo o seu bem, que o amor o reparte, mas identificando-se a tal ponto com o outro que o bem deste torna também seu. O mesmo bem é desfrutado em sua integridade pelos dois em um só espírito, e não cortado ao meio e dividido entre duas almas. Quando o amor é realmente desinteressado, aquele que ama nem mesmo se detém para indagar se pode apropria-se, a salvo, de alguma parte do bem que ele quer para o amigo. O amor procura o seu bem integral no bem do amado; dividir esse bem seria diminuir o amor. Tal divisão não se reduziria a enfraquecer o efeito do amor, mas, também, diminuiria a sua alegria. Pois o amor não busca uma alegria que seja conseqüência do seu efeito: a sua alegria esta no próprio efeito, que é o bem do amado. Por conseguinte, se o meu amor é puro, eu não tenho sequer de procurar para mim mesmo a satisfação de amar. O amor só busca uma coisa: o bem do amado. Ele deixa aos outros efeitos secundários o cuidado de si mesmos. O amor, portanto, é a sua própria recompensa.

Amar o outro é querer o seu verdadeiro bem. Tal amor é fundado na verdade. Um amor que não vê distinção entre o bem e o mal, que ama cegamente, so por amar, é mais ódio que amor. Amar as cegas é amar de forma interesseira, porque o fim desse amor não é a conveniência real do amado, mas só o prazer de amar em nossa alma. Tal amor nem pode ter a aparência de amor, a menos que ele pretenda procurar o bem do amado. Mas, como ele, de fato, não tem o menor zelo da verdade, nem jamais considera que pode estar errado, demonstra ser so egoísmo. Não procura o verdadeiro bem do amado nem mesmo o seu. Não lhe importa a verdade, interessa-lhe so ele mesmo. Proclama-se satisfeito com um bem aparente, que é o exercício do amor pelo amor mesmo, sem nenhuma consideração dos seus bons ou maus efeitos.

Quando um amor desse gênero existe no nível da paixão corporal, é fácil reconhece-lo. Ele é egoísta e, portanto, não é amor. Aqueles cujo amor não transcende os apetites do corpo, nem se dão, geralmente, o trabalho de enganar-se com bons motivos, seguem simplesmente as próprias paixões. Como não mentem a si mesmos, são mais honestos – embora mais miseráveis – do que aqueles que pretendem amar num plano todo espiritual, sem considerar que o seu “desinteresse” não passa de mentira.

Trecho do livro Homem algum é uma ilha de Thomas Merton pg. 20-21

Comentários

Anônimo disse…
oi! resolvi fechar meu blog, depois de um longo ócio criativo... mas mudei de servidor e agora voltei à ativa. com outra temática, aliás. não sei se os antigos leitores irão gostar...
mas passa no meu antigo blog pra conferir o endereço novo!
bjos!
Anônimo disse…
Esse blog é seu ou é dos autores que você lê, heim?!!?

Bota a mão na massa aí, oxi!
André Martins disse…
Coracult; me sinto um ignorante com esses textos que você coloca... mas abafa!!
hehehehehe
Abração!

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