Bom é ser precoce

Especialistas em carreira sugerem que os jovens interajam com o mercado o mais cedo possível. Programas de estágio e de menor aprendiz são indicados para os primeiros contatos

Manoela Alcântara

 Adauto Cruz/CB/D.A Press

Driele e Ramon concluíram, na semana passada, o curso de jovem aprendiz. Agora, a dupla já sabe o que fazer na faculdade

Estar preparado para o mercado significa muito mais do que ter uma boa formação. Com o aquecimento da economia e a necessidade de mão de obra especializada, as empresas não querem perder tempo contratando quem não esteja realmente pronto. Isso provoca uma das maiores confusões na cabeça dos jovens: como conseguir o primeiro emprego se a principal exigência é ter experiência? A solução está nas oportunidades exploradas ainda no processo de formação, como estágios, programas de trainee e os destinados a menores aprendizes.
Esse contato inicial com os empregadores pode, além de render o primeiro emprego, estreitar as relações entre a escola e os empregadores. A maioria dos brasileiros considera que as instituições de ensino não oferecem um bom preparo para o mercado de trabalho. Em uma pesquisa recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) realizada pelo Ibope, cerca de 40% dos entrevistados disseram que, ao fim do curso médio ou superior, o aluno está apenas razoavelmente preparado para o primeiro emprego.
Thirza Reis Sifuentes, diretora técnica da Homero Reis e Consultores, psicóloga e coach, aposta no estágio como passaporte para o mercado. “Esse é o momento do jovem mostrar o que sabe, fazer o seu nome e ser lembrado na hora de uma contratação. É no estágio que um bom grupo de contatos pode ser feito. O estágio é também um processo de percepção e distinção de competências. É nele que muitos fazem os testes das áreas em que querem ou não atuar”, constata. Além disso, se há o interesse de fazer parte de um determinado nicho, nada melhor do que estar dentro da empresa para fazer parte do meio.
Para o autor do livro Superdicas para o jovem escolher bem a profissão, Ruy Leal, os programas destinados a menores aprendizes atingem uma parcela de adolescentes e jovens de forma ainda mais eficaz que os estágios, e possibilitam uma formação de ideais sobre a profissão e o mercado menos tardia. “Um não exclui o outro, mas só se pode entrar em um estágio após os 16 anos. Nos projetos de aprendiz, é possível trabalhar em diversas funções ainda com 14 anos, uma boa idade para começar as pesquisas do mercado e até para definir o curso superior a seguir”, indica.
Ramon Aurélio Júnior e Driele Morgany de Abreu, ambos com 17 anos, concluíram, na semana passada, o Programa Aprendiz Legal. Com emprego garantido e uma percepção diferente das carreiras que querem trilhar, eles se consideram preparados para encarar seleções e serem bem-sucedidos profissionalmente. “Quando fiz a entrevista do meu atual estágio, falei da minha experiência como aprendiz e isso me rendeu a contratação. Todo o conhecimento que adquiri foi muito importante para o meu currículo e para a minha formação. Depois de concluir os dois anos de trabalho associado a cursos, descobri que quero fazer a faculdade de administração”, diz Ramon Aurélio.
Driele seguirá a mesma carreira. Ela só decidiu isso depois de, aos 15 anos, prestar serviços para uma escola da cidade. “Queria fazer direito, hoje mudei de opinião”, alega. Também empregada, a jovem aprendeu a ter mais responsabilidade e a analisar como funciona cada profissão. “No colégio, não falam nada sobre o mercado. Aprendi isso na prática, pesquisando. Consegui criar rotinas na minha vida e organizar meu tempo. Hoje, pratico isso no meu emprego de carteira assinada, mesmo aos 17 anos”, comemora.
Em Brasília, algumas empresas como o Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee), o Instituto Euvaldo Lodi (IEL) e o Instituto Fecomércio (IF) intermediam os estágios de estudantes de cursos superiores, do ensino médio e do técnico. Já as inscrições para o programa de menor aprendiz são feitas por meio de instituições cadastradas no Ministério do Trabalho. Os programas de trainee, onde os selecionados já entram com um salário compatível com o do mercado e conhecem todas as áreas da empresa para depois chegar a um cargo de gerência, acontecem sazonalmente e são organizados pelas próprias contratantes.

Foco na técnica
Em todo o país, existem institutos federais especializados na formação técnica de profissionais. Vinculados ao Ministério da Educação, eles oferecem cursos profissionalizantes rápidos; os técnicos, com duração de dois anos; e até formações de nível superior. O instituto federal do DF tem sede na Asa Norte e câmpus espalhados em Planaltina, Samambaia, Gama e Taguatinga.
O governo local também tem escolas com esse perfil, como a Escola Técnica de Brasília (ETB). Segundo o coordenador-geral dos cursos básicos da escola, Roberto Soares Felipe, as capacitações de curto prazo possibilitam que os jovens estejam preparados para as vagas do mercado. “Eles chegam sem nenhuma profissão, sem saber nenhuma ferramenta profissional. Aqui, aprendem a transformar conhecimentos em utilidades para os empregadores”, ressalta.
Quem já sabe trabalhar com a internet, exemplifica o professor, aprende que essa ferramenta não possibilita só o envio de e-mails, mas pode promover mudanças em toda a logística de uma empresa. A ETB oferece em média 55 cursos, feitos principalmente por jovens. Os que têm entre 14 e 20 anos correspondem a 31,4% dos matriculados; os com 21 a 25 anos são 23,8%. O governo do Distrito Federal também mantém os centros de educação profissional de Ceilândia e Planaltina.

Cotas obrigatórias
A Fundação Roberto Marinho e o Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee) fizeram um programa que já ajudou 40 mil jovens a entrarem no mercado de trabalho. A intenção é fazer valer a Lei nº 10.097/2000 — que obriga empresas de médio e grande porte a contratar jovens de 14 a 24 anos como aprendizes, cumprindo cotas que variam de 5% a 15% do número de funcionários efetivos qualificados.

Fonte: Correio Braziliense de 29 de agosto de 2010.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Participação na Pré Conferência de Desenvolvimento