Estudo revela desigualdades de renda entre as famílias do Distrito Federal

Estudo revela desigualdades de renda entre as famílias do Distrito FederalEnquanto 9,2% da população vivem com mais de R$ 10 mil, 23,4% passam o mês com, no máximo, R$ 1.090

Julia Borba - a

Publicação: 30/10/2011 10:20 Atualização: 30/10/2011 10:30

Helena, os filhos e o marido moram em um barraco de madeirite de 12m2 na Estrutural e sobrevivem com um salário mínimo. As crianças pretendem fazer curso superior (Ed Alves/Esp CB/D.A Press)

Helena, os filhos e o marido moram em um barraco de madeirite de 12m2 na Estrutural e sobrevivem com um salário mínimo. As crianças pretendem fazer curso superior

Para cada quatro famílias da classe A do Distrito Federal, existem 10 de baixa renda. Uma radiografia da situação financeira dos lares da capital federal, feita pelo Instituto Brasiliense de Estudos da Economia Regional (Ibrase), a pedido do Correio, comprova o tamanho do fosso social existente na cidade. Enquanto há 66,5 mil famílias com renda mensal superior a R$ 10,9 mil, outras 170 mil se apertam para passar o mês com menos de R$ 1 mil, vivendo com limitações de espaço e de infraestrutura.
Apesar dessa expressiva desigualdade socioeconômica, Brasília consegue ostentar o título de maior renda per capita do país. Não é para menos: em 9,2% dos lares, a soma dos contracheques fica acima de 20 salários mínimos (quase R$ 11 mil). Para se ter uma ideia do quanto esses moradores destoam do restante do país, basta comparar com a média nacional: no país, apenas 2,2% das famílias têm o mesmo rendimento.

O levantamento, feito pelo economista Júlio Miragaya, do Ibrase, estima que existam 723,5 mil domicílios em todo DF. Ao separá-los de acordo com as faixas de renda (veja o quadro), é possível perceber que, além das que despontam como as mais endinheiradas, existem outros tipos de famílias dividindo espaço na cidade.
O segundo grupo mais rico (classe B), somando os salários da casa consegue garantir entre R$ 5,4 mil e R$ 10,9 mil ao mês, representa 16,3% da população. O terceiro (classe C) é formado pelos de rendimento entre R$ 2,7 mil e R$ 5,4 mil, o equivalente a 20,3% dos moradores. No extrato definido como classe D, formado pelos que ganham entre R$ 1.090 e R$ 2.725, há 30,7% das famílias brasilienses. Por fim, com renda de até R$ 1,1 mil (classe E), encontram-se 23,4% da população total.
O detalhe é que praticamente todos os situados nas faixas mais altas de renda vivem concentrados em apenas algumas regiões da cidade. Ao destacar os lagos Sul e Norte, o Plano Piloto, o Sudoeste, a Octogonal e o Park Way das demais áreas residenciais, é possível identificar que, em 67% dos domicílios, se vive com mais de 10 salários no mês, o equivalente a R$ 5.450. Esse percentual vai caindo a medida que outros bairros, mais distantes do centro da capital, são avaliados.

Águas Claras, Vicente Pires, Guará, Cruzeiro e Jardim Botânico ficam em outra subdivisão, em que 49,9% dos lares atingem o mesmo resultado. Ao analisar quem possui renda semelhante em Taguatinga, em Sobradinho, no Núcleo Bandeirante, na Candangolândia e no SIA, são 29,9%. A contagem segue decrescente até alcançar 4,2% nas seguintes áreas: Recanto das Emas, São Sebastião, Planaltina, Itapoã, Varjão e Estrutural. Nesses casos, os abonados geralmente permanecem nos bairros por sentirem a necessidade de viver perto do local de trabalho, como pequenos empresários, por exemplo.
Fora do Plano
Na casa de Helena Rodrigues da Silva, 30 anos, são seis pessoas para um salário de R$ 545. A família é o retrato de como vivem os que integram a última faixa de renda. O marido de Helena passa o dia na rua. Sem carteira assinada, ele faz bicos como ajudante de pedreiro. Ela se encarrega dos trabalhos domésticos enquanto os quatro filhos estudam. Os seis vivem em uma área de risco na Estrutural, em um quadradinho de 12m2, feito de madeirite. A cozinha/sala é organizada e limpa, apesar de o piso ser de terra batida e os banquinhos serem improvisados com latas.

Essencial

O dinheiro que entra paga o essencial: a comida. “A gente gasta bastante com alimentos. Compramos no mercadinho aqui perto mesmo. Na lista, tem sempre arroz, feijão, carne e verduras”, diz Helena. Depois de acertar as contas com a mercearia, não sobra nada. “Nem uma moedinha no porquinho”, brinca. A família não tem despesas com aluguel ou com escola.
Mesmo diante das dificuldades, eles sonham com o futuro. Nos planos, estão tanto a conquista da casa própria quanto a formação do meninos. “Esse nosso barraquinho não vai poder ficar aqui, estamos na lista para ganhar um terreno. As crianças já sabem o que querem: um vai ser bombeiro e o outro, policial”, comenta, orgulhosa. As duas meninas também decidiram as carreiras que pretendem seguir, veterinária e pedagogia.
Helena veio da Bahia em 2007 e nunca teve oportunidade de estudar. Depois que chegaram os filhos, a situação ficou ainda mais complicada, já que nunca contou com ajuda para cuidar das crianças. Até mesmo arrumar um emprego é um projeto complicado. “Eu nunca pensei em ter uma profissão, mas tenho vontade de estudar. Quem sabe, né?”, pondera.

Saiba mais...

Realidade da elite brasiliense é diferente da média dos moradores do DF Na capital de extremos, 487,3 mil famílias ficam no meio-termo

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Participação na Pré Conferência de Desenvolvimento