Pensando na liberdade na "Hipermodernidade"

Desde o dia em que li John Stott falando que liberdade é uma palavra essencialmente cristã nunca mais parei de pensar nisso. Inclusive tenho visto essa afirmação ecoar cada vez mais. O interessante é que liberdade é um tema central nos tempos chamados "hipermodernista". Veja comingo alguns pensamentos sobre liberdade.

Ed René Kivtz escreveu no seu texto A espiritualidade na pós-modernidade.

Ele diz: "...a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, definiu liberdade como “poder para fazer tudo o que não prejudica o outro; o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem mais limites do que os que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos”. E a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, afirmou que “todos os homens nascem e permanecem iguais e livres”.

A lógica deste ideário moderno exige dois outros aspectos da individualidade: a autonomia e a racionalidade. O significado etimológico de autonomia é “ter a lei em si mesmo”, a capacidade do indivíduo agir movido e orientado por sua própria consciência, assumindo, portanto, a responsabilidade pelos seus atos. Autonomia implica todo poder normativo subordinado à consciência individual e, conseqüentemente, a rejeição de todo poder arbitrário e dogmático. Por esta razão, o processo moderno rejeita a religião e a divindade representada por ela."


Isso aqui explica porque liberdade está no centro da agenda atual. A grande questão é perceber até onde isso afeta meu comportanto e como devo reagir a tudo isso. Sem dúvida precisamos de mais atenção e consciência para viver.

No texto de Raúl Kerbs, filófo Phd pela universidade de Cordoba, fica claro a grande ligação entre liberdade e pós-modernidade. Ele escreve no texto: A ética no pós-modernismo:

Na base da ética pós-moderna jaz uma crise de autoridade.1 Esse convulsionamento envolve instituições tradicionais (família, escola, igreja, estado, justiça, polícia), e através dele o modernismo procurou organizar uma sociedade racional e progressiva. Esse abalo se manifesta mediante diferentes modos: Uma sociedade que idolatra a juventude e gratifica seus caprichos e fantasias.2 Uma cultura na qual a riqueza é sinônimo de êxito e felicidade. Uma economia consumista em que o "ser" consiste em comprar, consumir, usar e desperdiçar. Uma identidade marcada por aquisições de mercado e não por ideologias. 3 No pósmodernismo a "imagem" domina a realidade. Ser alguém é aparecer na tela e no website.4 Aquilo que é visto define o que deve ser; quase ninguém mais se importa com o que é "realidade". A imagem pública é o objeto de culto.5

A cultura pós-moderna perdeu o amor pela verdade.

Em contraste com a ética de trabalho do modernismo e a economia individual, a ética moderna estabelece os valores de gastos do consumidor, 6 seu tempo livre e a ociosidade. 7 Mas isso não podia funcionar sem a exaltação do individualismo, a desvalorização de causas caritativas e a indiferença em relação ao bem público.8 A busca de gratificação, do prazer e realização individual é o ideal supremo. O culto à independência pessoal e a diversidade de estilos de vida tornam-se importantes. O pluralismo provê uma multiplicidade de valores com opções individuais, mas nenhuma delas autêntica. Diferenças ideológicas ou religiosas são tratadas como modismo e consideradas superficiais.9 A cultura da independência pessoal, do divertimento e da liberdade de expressão surge como algo sagrado .10 O irracional é legitimado através das afeições, intuições, sentimentos, carnalidade, sensualidade e criatividade.11 Tudo isso tem lugar na conjuntura de um axioma respeitado por quase todos: minimizar a austeridade e maximizar o desejo, minimizar a disciplina e maximizar a tolerância. 12

Ao mesmo tempo, os meios de comunicação de massa e informação formam a opinião pública e prescrevem as normas de consumo e comportamento. 13 A mídia substitui a interpretação religiosa e a ética com informação precisa, instantânea, direta e objetiva. Ela valoriza o que parece real acima dos conceitos de bem e mal.14 Paradoxalmente, a influência da mídia cresce em meio à crise de comunicação. As pessoas só falam de si mesmas. Querem ser ouvidas, mas não querem ouvir. Querem comunicação sem compromisso . Daí a busca de conexão à distância, de amigos e amizades invisíveis, de hot lines, e-mails e salas de bate-papo [chats].15


Um dos grandes pensadores da atualidade, o filósofo francês Gilles Lipovetsky faz algumas afirmações preocupantes sobre liberdade e "hipermodernidade".

Num entrevista dada ao site da Uol ele responde, quando perguntado se o luxo e supérfluo: O que acontece hoje é que não temos mais muitos sonhos. Por isso, o consumo para muitas pessoas funciona como um sonho, de beleza, de coisas de qualidade, de estética, de felicidade, de distanciamento. O homem é um consumidor, mas não é só isso. O homem não foi feito só para consumir, ele também foi feito para criar, para progredir, para melhorar. O consumo é muito bom, mas não pode preencher a vida. Se não há outro valor além do consumo, é muito triste. Não é supérfluo, é triste.

Como consequencia desses novos tempos é exatemente a perca de objetivos existências. o que é grave. Maffesoli, um sociólogo também francês escreve sobre algo grave que ele chama de Revolução do mal. Embora eu tenha algumas questionamentos em relação ao pensamento dele nesse sentido ele está certo quando afirma:

"A revolta germina. Quem profetiza é o sociólogo francês Michel Maffesoli. Ele vê no desinteresse dos jovens pela política, assim como nos pegas automobilísticos ou nas "raves", sinais de uma revolução em curso. Por paradoxal que pareça, é no silêncio da inatividade e no ruidoso tribalismo adolescente que está surgindo a nova sociedade. A tese de Maffesoli é um tanto incômoda, mas merece atenção. O sociólogo, professor da Sorbonne, conclui que a destruição das torres gêmeas, em Nova York, não foi um simples ato de terrorismo, mas um sinal dos tempos. O mal veio para ficar. E é melhor se acostumar com ele até que um novo ciclo seja inaugurado."

É tem muita coisa para pensar sobre essas questões de liberdade e "hipermodernidade" mas por enquanto vou ficando por aqui.

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